O governo do
estado de Santa Catarina tem manifestado por diversas vezes a intenção de
implantar a meritocracia na educação, isto representa o fim de qualquer
carreira e responsabiliza os trabalhadores/as pelo caos instalado na educação.
O SINTE/SC, tem
posição contrária a qualquer tentativa de implantação da avaliação
meritocrática, e chama a atenção de todos os educadores quanto à visão
retrógrada que isto representa, desconectada dos tempos que estamos vivendo.
Para ajudar os
profissionais da educação a se posicionarem claramente diante desta proposta,
apresentamos a visão de alguns teóricos do capitalismo sobre o tema para que
possamos entender que nem os criadores da meritocracia acreditam em sua
eficácia.
De acordo com
Edvard Deming, guru norte-americano dos programas de qualidade no Japão. “O
sistema anual de avaliação de desempenho dos assalariados é negativo porque é
um sistema arbitrário e injusto, que desmoraliza os empregados, alimenta o
desempenho imediatista, aniquila o trabalho em equipe, estimula o medo e a
mobilidade administrativa, já que as pessoas mal avaliadas tendem a procurar
outros empregos”.
Outros teóricos
do capitalismo moderno, como Juran e Ishikawa, ligados também aos programas de
qualidade, afirmam que “80 a 85% dos problemas das empresas são de origem
sistêmica e não da responsabilidade individual dos funcionários.” Diante desta
realidade os mesmos indagam:
“Como podemos avalia-los de forma correta”?
“Como será possível discernir, em um mau
desempenho, a parcela da culpa do sistema, da responsabilidade do indivíduo”?
Na opinião dos mesmos. “Apurar ou não o
merecimento não é mais a questão. O essencial é como apurar o merecimento.”
Diane Ratvitch
que implantou e defendeu o modelo meritocrático nos EUA durante a era Reagan,
afirma que, em vez de melhorar a educação, o sistema, em vigor nos USA, está
formando alunos treinados para fazer a avaliação; porem, nota alta não é
educação melhor. Para Martin Carnoy, o que tem sido feito nos EUA não é bônus,
mas punição, a exemplo do que tem feito alguns estados, especialmente São
Paulo.
Para nós fica
claro que comparar a escola pública com uma empresa privada é grave. Ao
persistir na velha cultura de introduzir elementos ligados ao mundo dos
negócios, nas esferas públicas para resolver a situação, sobretudo, quando se
trata de educação é um erro. Ao tomar como modelo a empresa privada, como se
não fosse possível administrar o bem público a não ser na lógica empresarial, os
encarregados das funções ditas sociais não levam em conta que o universo
escolar é totalmente diverso do privado. Acabam por contribuir enormemente para
a depreciação da coisa pública.
Conceitualmente o
mérito é uma avaliação sobre a formação, pontualidade, assiduidade, qualidade
do trabalho e dedicação dos profissionais. Já a meritocracia, é uma comparação
entre situações desiguais, comparando a produção de profissionais com
diferentes condições de trabalho. Isto leva a uma verdadeira disputa entre
escolas e seus trabalhadores, ao invés de haver uma troca de experiências, um
trabalho de colaboração entre elas. A meritocracia é oriunda da política
neoliberal, que é o aprofundamento da visão capitalista de que
é necessário haver competições em todos os campos para que se tenha melhores
resultados. A colaboração deve acontecer apenas dentro de cada setor. Não
há preocupação de que todos cresçam, mas apenas os mais capazes!
É preciso
reconhecer o mérito dos trabalhadores e impedir que isso alimente o discurso de
gestores que o transformam num processo de disputa insana entre os/as
trabalhadores/as ou entre as escolas, deixando de levar em conta o que acontece
de bom nestes ambientes. A meritocracia paga mais a quem aprova o maior número
de alunos, sem primar pela qualidade.
A revolta de quem
trabalha com educação vai bem além das questões salariais, embora este seja um
sinal inequívoco do valor atribuído ao trabalho e aos/as trabalhadores/as, ela
está diretamente relacionada à insegurança que sentem diante de um governo que
não cumpre acordos e ao desencanto com sua profissão.
Não podemos confundir mérito com meritocracia.
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